domingo, 19 de junho de 2011

o Apoio de Pedro Barosa



Caros Amigos e Camaradas,

O Partido Socialista precisa de renovação e, sobretudo, de um novo ciclo.

Segundo Vítor Ramalho, Presidente da Federação do PS de Setúbal, “Sendo a hora de renovação, que não deverá excluir o contributo de nenhum socialista, não duvido que o debate das ideias em torno dos projectos das candidaturas possibilitará, como disse, o reforço do ideário do PS, a reestruturação orgânica e também a própria clarificação do rumo futuro da marcha do PS, face à gravíssima crise que o país atravessa, não esquecendo nunca que o partido socialista é indispensável ao aprofundamento da democracia e do progresso do país, esteja no governo ou na oposição.

Já em 2009 Vítor Ramalho defendia a necessidade de renovar a credibilidade e a esperança. Em artigo publicado na edição de 1 de Agosto de 2009 do Semanário escrevia:

Os partidos políticos são os pilares da democracia e a base de sustentação dos governos.

Os partidos deveriam assim ser a menina dos olhos da democracia, os alicerces dos diferentes ideários e os impulsionadores dos debates sobre o futuro.

Deveriam ser mas são-no cada vez menos. O militante deixou de ser visto como um cidadão com responsabilidades cívicas e políticas acrescidas. O partido é hoje para ele, em regra um instrumento para obtenção de um qualquer poder e menos o suporte de causas, valores e princípios, em que o interesse geral prevalece. Deixou de existir em muitas situações a pertença do militante ao partido por razões de ideário.

É que hoje, mais do que nunca parece ser decisivo priorizar o combate no interior dos partidos, porque é por estes – que não haja ilusões – que o futuro se reconstruirá. Quem poderá contribuir para isso se não forem os dirigentes?

No que me respeita não tenho dúvidas face ao descrédito crescente dos cidadãos da política e dos partidos.

Não há – parece-me - outra via, para renovarmos a credibilidade e a esperança. Como se verá no futuro próximo.”

Apesar de escrito em 2009, este artigo revela uma invulgar actualidade e é por demais elucidativo.

Os partidos políticos estão desacreditados e não correspondem às exigências do nosso tempo. Em termos de ideologia, organização, funcionamento e representatividade, não respondem à contemporaneidade. Os partidos estão marcados pela sua génese da época industrial, quando as sociedades em que vivemos são cada vez mais pós-industriais, sociedades de informação e do conhecimento. Com a aceleração das mudanças civilizacionais, os partidos foram-se descaracterizando, afastando-se dos eleitores e dos próprios militantes, esvaziando-se de referências ideológicas e teóricas, transformando-se em máquinas burocráticas e clientelares de tomada e exercício de poder por grupos cada vez mais restritos e menos representativos dos sectores da sociedade que era suposto representarem.

A vida partidária esvaziou-se progressivamente, deixou de ser espaço de confronto de ideias, de militância cívica e política, para só ter expressão através daqueles que ocupam cargos políticos e partidários.

Alain Touraine, in Carta aos Socialistas, escreveu “A opinião pública já não considera os partidos como representativos do interesse público, mas sim como empresas políticas, financiadas por operações ilegais, minadas pela corrupção e mais próximas das agências de publicidade do que dos movimentos sociais”.

Constituído em 1973, por um conjunto de personalidades social-democratas, o Partido Socialista não recebeu, na sua génese, heranças ideológicas ou praxis ancoradas nos movimentos sociais e trabalhistas. Esse facto propiciou que o PS tenha estado, até hoje, prisioneiro de
lideranças unipessoais que, com mais ou menos carisma, e, em função das circunstâncias, se orientam exclusivamente para a conquista e o exercício do poder. Tal não é criticável, pois essa é a finalidade dos partidos políticos, não fosse a ausência de uma base ideológica definida e consistente, em resultado do sacrifício dos valores e causas do socialismo democrático, bem como dos princípios programáticos do PS, ao princípio do pragmatismo.

Os portugueses devem muito ao PS (a luta pela liberdade, antes e depois do 25 de Abril, a consolidação de uma democracia pluralista e de um estado de direito, a abertura a todos os povos do mundo, uma cultura de tolerância e convivência pacífica, a Europa e o que ela nos trouxe de oportunidades, mas também de responsabilidades, a defesa do modelo social europeu e uma capacidade sempre renovada de, no respeito pelo ser humano, pelo meio ambiente e pelas conquistas sociais), mas com excepção da liderança de Mário Soares, a generalidade das lideranças que se seguiram têm-se “consumido” na efemeridade do poder ou na oposição, suportadas em corpos aparelhísticos e clientelares que existem manifestamente à margem dos movimentos sociais e populares, dos debates civilizacionais e da sociedade civil.

Os dirigentes partidários, tal como os governantes, teimam em esquecer que o voto serve para designá-los, mas já não serve para legitimar a sua acção.

Em minha opinião, a prática política tal como a conhecemos está em declínio, um declínio irreversível. Uma nova forma de ver e fazer política é a única resposta possível, admissível e desejável.

Essa nova prática política deve ser alicerçada em valores e causas, no respeito pelos princípios programáticos e doutrinários, no primado do interesse público sobre os interesses individuais ou partidários, em elevados níveis de exigência ética no exercício de cargos políticos, em aplicar eficazmente a administração da justiça, em promover a solidariedade e o combate às desigualdades sociais, em saber incorporar novas dimensões de participação, em considerar a opinião dos cidadãos, em saber incorporar a opinião, ideias e propostas de outros partidos políticos, em utilizar uma linguagem de verdade, em honrar as promessas feitas, em agir com transparência, em privilegiar o debate das ideias, em respeitar os adversários, em gerir com rigor os dinheiros públicos, em assumir as responsabilidades, em regressar para junto das pessoas, em dar voz aos problemas dos cidadãos e em prestar contas aos eleitores de modo permanente e não apenas nos períodos pré-eleitorais, em ser claro nas convicções e nas posições.

A clareza das convicções e das posições deve ser sempre, e em qualquer circunstância, uma obrigação de todos os agentes políticos. Esta atitude decorrente da revelação de intenções íntimas com sinceridade de posições públicas chama-se credibilidade.

A nova prática política é respeitar e aplicar os princípios essenciais, é sobrepor os valores, as causas, os princípios programáticos e doutrinais, ao pragmatismo, não é sacrificar os princípios ao pragmatismo. O pragmatismo vive pela lógica de que as ideias e actos são verdadeiros se servem à solução imediata dos problemas, tomando-se a verdade pelo que é útil.

Vítor Ramalho escreveu hoje “Tendo em atenção o percurso politico e as ideias de António José Seguro, conhecido pela sua coerência, por uma forte e já longa experiência partidária e parlamentar incluindo no parlamento europeu, bem como por uma diversificada actividade governativa que sempre desenvolveu com espírito de servir e fidelidade a princípios e valores, sem subserviências, estes tão necessários à mobilização nesta grave crise que atravessamos, venho publicamente e como militante do PS dar-lhe o meu apoio.”

In Memórias – Um Combate pela Liberdade, Edmundo Pedro escreveu “A esquerda nunca foi para mim uma simples identificação com os interesses sociais e políticos de uma parte da população. É muito mais do que uma mera opção social. É uma opção dos sentimentos. É uma profunda necessidade de coerência moral. E é também a identificação com uma certa cultura. Mas a opção de esquerda, quando é ditada pelo racionalismo e por uma profunda necessidade de realização moral, e quando, por outro lado, está alicerçada em inúmeras atitudes que só se explicam a essa luz, implica a coragem de assumir a verdade, com todas as suas consequências.”

Apoio a candidatura de António José Seguro a Secretário-geral do PS porque estou convicto que é a pessoa indicada, estando esse apoio alicerçado no seu trajecto político e modus operandi, no facto de considerar imperativo a renovação e um novo ciclo para o PS, mas também por ser uma opção de coerência moral e política, e uma identificação com uma certa cultura.

Saudações socialistas 
Pedro Barosa

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